18 mar Crise da água pesa na conta de luz e eleva ainda mais a inflação
Falta de chuvas encareceu tarifas de energia em torno de 8% em 2015. Na inflação, crise hídrica já responde por impacto de 0,25 ponto percentual.
A falta de chuvas não só deixou a conta de luz mais cara em 2015, como também ganhou mais peso no cálculo da inflação. Sozinha, a crise da água já encareceu a energia elétrica nas residências em torno de 8% entre janeiro e fevereiro, estima o professor de economia da USP, Heron do Carmo.
O cálculo leva em conta as tarifas da bandeira vermelha, que elevaram as contas de luz em R$ 3 por quilowatt-hora (kwh) até fevereiro. O sistema foi adotado em janeiro para cobrir o alto custo das termelétricas, acionadas para evitar o risco de um apagão, devido ao baixo nível dos reservatórios.
“Sem a estiagem, não seria necessário operar com a tarifa extra. A conta de luz teria subido menos”, explica Carmo. O cálculo considerou a tarifa residencial da Eletropaulo em vigor atualmente, de R$ 37,18 por 100 kwh.
Em março, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reajustou o aumento na bandeira vermelha de R$ 3 para R$ 5,50 a cada 100 kwh. Esse novo aumento deve deixar a alta na conta ainda mais evidente.
Para o presidente do instituto Acende Brasil, Cláudio Sales, esse novo reajuste vai encarecer as contas de luz em cerca de R$ 8,80 por mês, considerando-se um consumo médio de energia por brasileiro de 160 kwh.
“Apenas isso deve elevar as contas de luz na ordem de 15%”, estima Salles. “E todos os indicadores apontam para a necessidade de o consumidor conviver com essa nova tarifa até o fim do ano”, acredita.
Apesar da alta significativa, pode parte do aumento nos preços da energia deve-se a “imperfeições no modelo utilizado no planejamento e operação do sistema elétrico”, acredita Salles.
Segundo o Banco Central, os preços da energia elétrica devem subir 38,3% em 2015. Já em março, a revisão extraordinária das tarifas aprovada pela Aneel fez as contas subirem, em média, 23,4%.

Crise hídrica eleva o IPCA
Os custos da seca na energia elétrica também aparecem no cálculo da inflação em 2015. De acordo com Carmo, da USP, a falta de chuvas já eleva o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 0,25 ponto percentual desde o começo do ano.
“Se a inflação subir 8% em 2015, pode-se dizer que ela teria sido de 7,75% se a crise da água não existisse”, explica o professor. “Este impacto sobre o IPCA não é desprezível”, considera.
Inflação da água em São Paulo
Apesar da escassez de chuva, as tarifas da água encanada na capital paulista caíram 15% em 2014, segundo o indicador IPC-Fipe. Para Carmo, da USP, essa redução pode ser atribuída aos descontos de 30% pela economia na conta de luz, concedidos pela Sabesp desde o ano passado.
Em contrapartida, os preços da água nas residências subiram 5,49% entre janeiro e fevereiro. No último mês, a Sabesp começou cobrar multas de entre 40% e 100% ao consumidor que excedeu a média do consumo, no comparativo entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014.
Já a água engarrafada, vendida no varejo paulistano, ficou 14,6% mais cara em 2014, e acumula alta de 2,88% somente no primeiro bimestre de 2015, ainda segundo o IPC-Fipe. A água mineral em São Paulo subiu mais que o IPCA, que acumula alta de 2,86% nos dois primeiros meses do ano.
Custo energético da falta de água
Devido à falta de chuvas e à queda no nível dos reservatórios, as usinas termelétricas passaram a ser acionadas desde o fim de 2012 para evitar a falta de fornecimento de energia no país. “O alto custo dessas usinas é repassado ao consumidor pelas tarifas”, explica Salles, do Acende Brasil.
As termelétricas usam o calor gerado pela queima de combustíveis para gerar energia, o que encarece os custos e também demanda alto consumo de água. Nos EUA, por exemplo, essas usinas são responsáveis por cerca de metade do consumo de água no país.
De acordo com um relatório da ONU de 2014 sobre a relação entre água e energia, cerca de 90% da geração de eletricidade no planeta depende de água. A disponibilidade deste recurso deve ser crucial até 2035, período em que a demanda por energia deve aumentar em 70%, segundo o documento.
Estiagens podem ameaçar a capacidade de gerar energia hidrelétrica em muitos países, podendo restringir a expansão do setor de energia em muitas economias emergentes”, como é o caso do Brasil, diz o relatório.
Fonte: G1