Nova classe média gasta mais tempo para ir de casa ao trabalho, diz Ipea

Nova classe média gasta mais tempo para ir de casa ao trabalho, diz Ipea

Os trabalhadores muito pobres e os muito ricos são os que gastam menos tempo no deslocamento casa trabalho. E a nova classe média, que conseguiu comprar veículos com a melhoria da renda, está enfrentando mais engarrafamentos.

É o que aponta pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) apresentada hoje com base em análise dos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE de 2012.

De acordo com o trabalho, dos pesquisadores Carlos Henrique de Carvalho e Rafael Morais Pereira, 58% dos que ganham menos de 1/4 de salário mínimo por pessoa no domicílio gastam menos de 30 minutos nesse deslocamento. Esse percentual é semelhante aos que ganham mais de 5 salários mínimos por pessoa (56%).

A faixa de renda percentual onde há menos trabalhadores que gastam até 30 minutos no deslocamento casa trabalho é a faixa de 1 a 2 salários mínimos. Nessa faixa só 44% conseguem levar pouco tempo para se deslocar. A maioria (54%) gasta mais de 30 minutos no trânsito o que é considerado pelos pesquisadores um tempo inadequado.

“A nova classe média é que está tendo impacto no tempo de viagem”, afirmou Carlos Henrique de Carvalho em entrevista após a divulgação do trabalho.

A explicação dos técnicos é que os muito ricos podem morar perto do trabalho e por isso gastam pouco tempo. Já para os muito pobres, o indicador é sinal de “imobilidade”, segundo Carvalho, o que significa que eles ficam restritos a trabalhos apenas muito próximos de suas residências, fazendo deslocamentos a pé ou de bicicleta. Pelos dados, os muito pobres são os que menos têm acesso ao vale transporte (só 12% dos muito pobres recebem) contra a média de 40% no país.

“É preciso rediscutir a forma de subsidiar o deslocamento dos trabalhadores. Quem mais precisa é quem menos recebe. Não é à toa que os deslocamentos [dos mais pobres] são mais curtos”, afirmou Carvalho apontando para uma solução de subsídio direto aos trabalhadores informais e desempregados no país através do cadastro do Bolsa Família.

TEMPO DE DESLOCAMENTO

A pesquisa aponta ainda que piorou o tempo de deslocamento nas regiões metropolitanas do país entre 1992 e 2012 em 12%. O tempo médio saiu de 36,4 minutos para 40,8 minutos. Os locais com maiores aumentos desse número foram Belém (PA) e Salvador (BA).

As hipóteses da pesquisa são duas: as regiões metropolitanas podem ter ficado mais espalhadas, aumentando o tempo necessário ao deslocamento, e o aumento do número de famílias com veículos, registrado principalmente entre as famílias mais pobres e no Norte/Nordeste do país.

“As políticas nas três esferas de poder são de incentivo ao transporte individual. Não há políticas de segregação dos espaço urbano para o transporte público”, afirmou Carvalho citando isenções de impostos e congelamento do preço da gasolina entre outros para explicar o aumento no número de carros e a piora no tempo de deslocamento.

Enquanto no Brasil a variação de domicílios com carro foi de 9 pontos percentuais, em alguns estados do Norte e Nordeste a variação chegou a 20 pontos percentuais (Piauí) e 19 (Rondônia). Segundo Carvalho, esse percentual ainda tem espaço para crescer mais.

Nas família mais pobres (até 1/4 de salário mínimo por pessoa), o percentual de domicílios com veículos chegou a 28% em 2012 contra 16% em 2008. Nas famílias com mais de 5 salários mínimos de renda, o percentual é de 88% e cresceu apenas 2 pontos percentuais entre as duas Pnads.

“É o sonho de toda família ter uma casa própria e um carrinho na garagem como o próprio presidente Lula falava que era o sonho dele. Isso está de certa forma ocorrendo com a taxa muito alta [de famílias com carros]”, afirmou ele lembrando que serão necessários grandes investimentos em mobilidade urbana nessas regiões em cidades que têm baixa capacidade de investimento público.

São Paulo e Rio de Janeiro já têm quase 1/4 das pessoas levando mais de uma hora no deslocamento casa trabalho, sendo que em São Paulo esse percentual era 7 pontos percentuais menor há 20 anos. Para Carlos, esse tempo de deslocamento é inadequado e leva a problemas na produtividade dos trabalhadores. Segundo ele, são necessários melhorar as políticas de segregação para o transporte público e melhorar a distribuição dos empregos pelas regiões para evitar deslocamentos longos dos trabalhadores.

Fonte: Folha de São Paulo