23 fev Sabesp pretende injetar mais 10 mil litros de água por segundo em 2015
Segundo a empresa, volume abasteceria 3 milhões de pessoas.
Quais são as chances de São Paulo amenizar a crise de abastecimento de água? A solução pode estar em rios mapeados há muito tempo, mas que só agora serão explorados. As chuvas dos últimos dias têm ajudado. Mas ainda são insuficientes para afastar a possibilidade de racionamento.
Em Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo. A partir deste ponto, começa uma longa caminhada até um rio que pode ser uma esperança para aumentar a quantidade de água nas torneiras de muitos consumidores. O Fantástico segue com a Sabesp, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.
O Fantástico vai acompanhar o pessoal nesta expedição, na busca por novas fontes de água e segue por uma trilha que tem, mais ou menos, uns três quilômetros até chegar ao rio.
O caminho é usado por turistas de pousadas da região. Em alguns pontos, é bem fechado e cheio de obstáculos. O trajeto revela o que vamos ver lá na frente. No meio do caminho, o grupo já encontra muita água.
Também são vistos sinais de que a equipe não é a única a passar pelo local. No caminho, havia pegadas de onças.
Depois de quase uma hora e meia de caminhada, o grupo conseguiu chegar ao Rio Itatinga. Daqui, devem ser retirados 1,2 mil litros de água por segundo.
Fantástico: Dá para abastecer quantas pessoas?
Fernando Lourenço de Oliveira, superintendente da Sabesp: Aproximadamente, 500 mil pessoas, 24 horas por dia.
Se os planos da Sabesp derem certo, essa água pode aumentar a capacidade do sistema Alto Tietê, que atende atualmente 4,5 milhões de pessoas. Tem sido usado também para ajudar a abastecer consumidores do Sistema Cantareira, que foi o mais afetado pela falta de chuva. Mas, para que essa nova fonte de água consiga chegar ao Alto Tietê, ela vai ter que ser captada de um ponto do Rio Itatinga. E passar por uma tubulação que ainda nem começou a ser construída.
“Aqui é um ponto de altitude, por exemplo, que a gente vai ter como referência via satélite. Isso aqui fica marcado até o final da obra”, mostra Fernando Lourenço de Oliveira.
Depois da mata, a tubulação seguirá por uma estrada. Os pontos já estão sendo marcados. A tubulação que vai ser instalada é parecida com a exibida no vídeo acima. A obra já está mais adiantada. Ela está sendo feita em um outro ponto da Região Metropolitana de São Paulo e também tem o mesmo objetivo: levar mais água até o sistema Alto Tietê.
A adutora de nove quilômetros vai ficar embaixo da terra. A água que passará pelos canos gigantes vai vir de um rio que fica em Suzano, a 80 quilômetros de São Paulo. Ele é estreito e tem muito mato. Mas a Sabesp diz que no local tem bastante água e que a obra será entregue rapidamente.
Márcio Gonçalves de Oliveira, superintendente da Sabesp: Nós vamos retirar mil litros de água por segundo. Consegue atender 300 mil habitantes com mil litros por segundo. Esse sistema todo, nós vamos estar finalizando no final de maio.
Fantástico: Então, três meses, a obra já está pronta?
Márcio Gonçalves de Oliveira: Esse é o prazo.
Segundo a empresa, outras obras estão previstas ainda para este ano. Algumas ainda precisam de autorização de órgãos ambientais. Mas, quando ficarem prontas, vão aumentar a quantidade de água dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga. Juntos, eles abastecem hoje quase 10 milhões de pessoas.
Com esses investimentos, devem ser injetados mais 10 mil litros de água por segundo, aproximadamente, já em 2015. O suficiente, de acordo com a Sabesp, para abastecer 3 milhões de pessoas. A empresa já conhecia esses rios havia muito tempo, mas só agora, com a crise hídrica, decidiu usar essas fontes.
Fantástico: Vocês sabem que existe esse rio e que ele poderia ajudar o Alto Tietê há quanto tempo?
Fernando Lourenço de Oliveira: Esse estudo já tem, pelo menos, uns oito a dez anos.
Fantástico: Vocês avaliam que vocês podiam ter feito essas obras antes?
Fernando Lourenço de Oliveira: A intenção dessas fontes é abastecer o crescimento da macrometrópole para 20, 30 anos. Ninguém, na década passada, esperava por uma crise, uma estiagem, tão forte, que a mais de 80 anos viria.
O engenheiro José Roberto Kachel, que trabalhou 34 anos na Sabesp e faz parte do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, faz alguns alertas: “Esses rios, na verdade, eles estão tão secos quanto os outros da Região Metropolitana, porque o efeito da seca é generalizado. Se melhorou a vazão agora com essas chuvas, melhorou de uma forma geral. A hora que secar, seca todo mundo junto, não tem melhor nem pior, é a mesma coisa. Face a essa tragédia aí que nós estamos, uma maneira de gerir os recursos hídricos em São Paulo vai ter que mudar drasticamente. Ou seja, a garantia de abastecimento não vai depender mais só de chuva”, ele explica.
Fantástico: Vocês estão procurando várias outras fontes nesse momento?
Fernando Lourenço de Oliveira: Sim, para gente atravessar 2015 com menos esforço, com menos trabalho, vamos dizer assim, ou tanto impacto. Mas o impacto já está aí, não tem como voltar.
Fonte: G1