SUSTENTABILIDADE MELHORA A VIDA NAS FAVELAS

SUSTENTABILIDADE MELHORA A VIDA NAS FAVELAS

Proteção ao meio ambiente gera renda e educa em comunidades pacificadas

Coleta seletiva e reciclagem de lixo aumentam saúde e diminuem riscos ambientais

Em várias comunidades do Rio, um grupo de pessoas vem fazendo a diferença no que diz respeito aos cuidados com o meio ambiente. Ao dedicarem parte do seu tempo a atividades de reciclagem de lixo e sucata ― alguns inclusive viraram empreendedores do ramo ―, esses cidadãos estão contribuindo pontualmente com a limpeza dos locais onde vivem, tornando a vida nessas áreas mais saudáveis e liberando-as de riscos de desastres ambientais.

No Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, o projeto ReciclAção, completou um ano em março deste ano. Zoraida Gomes, conhecida como Cris dos Prazeres, conta que a ideia de se realizar um projeto ambiental, voltado para a coleta seletiva, nasceu depois dos desabamentos ocorridos em Santa Teresa, em 2010. O ReciclAção conta com o apoio do Governo do Estado, do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e da prefeitura.

“A plataforma do ReciclAção foi pensada e discutida durante um ano em nossos grupos de trabalho. Queríamos algo que tivesse um foco educativo, mas que fosse simples, porque falar de lei de resíduos sólidos, logística inversa, não faria sentido para os moradores da comunidade”, contou Cris dos Prazeres.

Segundo a líder comunitária, era preciso trabalhar com educação de maneira que a informação chegue ao público consumidor. “Porque muitas vezes ele compra os produtos, consome, mas não sabe como fazer descarte correto. O que queremos mostrar aos moradores é que uma comunidade limpa e saudável é responsabilidade de todos”, afirma Cris.

O ReciclAção trabalha com três tipos de materiais descartáveis: caixas tetra pack; garrafas pet e latas de alumínio. O morador leva o material que será descartado para a o ponto de coleta voluntário, localizado próximo ao Casarão dos Prazeres, ou nas 50 bags (grandes sacolas) que foram espalhadas em diversos pontos da comunidade. Nos últimos meses, o grupo também começou a trabalhar com reciclagem de óleo de cozinha.

Em um ano de trabalho, já é possível ver os resultados. O total recolhido era de 200kg. Em fevereiro subiu para 460kg. Em março esse número dobrou: foram recolhidos 962 kg de lixo. Para Cris, essa meta se deve ao fato do grupo ter intensificado as ações de conscientização junto aos moradores.

“Reforçamos a mobilização em alguns públicos específicos. Intensifiquei ações nas igrejas e também fizemos muitos bingos. No intervalo dos sorteios, eu aproveitava para falar sobre a importância da reciclagem do lixo. No último ano, conseguimos atingir nossa meta, porque o morador começou a sentir, de fato, que pode cuidar da comunidade onde mora.”

O reciclador

Nos Morros da Mineira e São Carlos, um homem está fazendo a diferença ao tentar melhorar o meio ambiente das duas comunidades. Seu nome é Paulo Ferreira, o Paulo Reciclador. Ele começou a reciclar lixo há 10 anos, nas horas livres do seu trabalho, mas depois de ficar desempregado, passou a se dedicar à reciclagem em tempo integral.

Incansável e cuidadoso, Paulo percorre as comunidades recolhendo pets, papelão, latinha e vidro. Na Mineira e no São Carlos, ele colocou três bags para que as pessoas pudessem colocar seus lixos. Todos os dias, ele recolhe o material com sua moto e leva para o seu ponto de trabalho, no São Carlos. Com as prensas industriais, compradas com seu próprio dinheiro, ele arruma o lixo, que será revendido para empresas da região.

“Eu costumava trabalhar em seis comunidades, mas fui diminuindo o ritmo e agora fico só nessas duas (Mineira e São Carlos). Há meses em que consigo juntar três mil quilos de lixo reciclável”, disse Paulo que conta com a ajuda das associações de moradores.

Paulo disse que é necessário que haja uma maior divulgação de trabalhos como o dele, para que inclusive chamar a atenção das crianças para a questão do lixo. “Tem que ter maior divulgação. As pessoas nem sabem, mas a reciclagem gera empregos e movimenta renda.”

Descarte na Formiga

No Morro da Formiga, Luiz Carlos Martins, o Negão, faz uma ação diferente. Ele não trabalha com material reciclável comum, como pets e papelão.  Além de se envolver com reflorestamento, recolhe os eletrodomésticos descartados nas encostas e rios.

“Comecei a recolher esse material na época em que era entregador. Reparei que as pessoas não tinham cuidado ao descartar essa sucata e fui juntando os fogões, geladeiras, TVs que eram jogadas fora. ”

Luiz recolhe mensalmente cerca de 15 quilos de cobre, e uma quantidade considerável de ferro e alumínio, que são vendidos para ferros-velhos da região. Depois de mais de 10 anos com Luiz realizando esse trabalho na Formiga, os moradores agora fazem o descarte em dois pontos de coleta na própria comunidade.

“Se eu não fizesse esse trabalho, isso tudo estaria dentro do rio, atrapalhando a vida dos moradores. Algumas pessoas já enxergaram que, além de limpar a área, deixamos de ter lixo que vai juntar água, podendo causar dengue”, explica.

Luiz conta que o seu trabalho melhorou após a instalação da UPP na Formiga. “Acabou aquela questão do tiroteio, as pessoas se sentem mais à vontade para ir e vir aqui na Formiga, sem medo.”

Fonte: Brasil 247