Telhados brancos ajudam a tornar as cidades mais amenas

Telhados brancos ajudam a tornar as cidades mais amenas

Martha San Juan França
Dow e Hydronorth se unem para mostrar os benefícios da pintura com tecnologia inovadora na redução dos efeitos das ilhas de calor, sem que a medida se torne obrigatória, como propõe projeto polêmico na capital paulista.

Pintar de branco os telhados das edificações dos centros urbanos está sendo apontado como forma de diminuir a temperatura nas ilhas de calor – áreas com alguns graus a mais à vista no termômetro e menos umidade do ar.

A ideia não é nova. Nos Estados Unidos e na Europa, os benefícios dos telhados frios ou brancos no combate ao aquecimento global e no aumento da qualidade de vida dos moradores das áreas urbanas já vêm sendo divulgados há mais de vinte anos.

Na Califórnia, por exemplo, o governo estadual criou uma lei em 2005 que obriga armazéns e prédios comerciais com telhados planos a cobri-los de branco.

A proposta chega agora ao Brasil com o avanço da tecnologia e o lançamento de novos produtos pela empresa líder no mercado de resinas acrílicas Hydronorth, com tecnologia Dow; e pela polêmica despertada pelo projeto de lei 615/2009, em andamento na Câmara Municipal de São Paulo, que torna obrigatório pintar os telhados dos imóveis da capital paulista de branco.

Outras cidades, como Rio de Janeiro e Florianópolis, já cogitaram em estabelecer legislação a respeito.

“Os telhados brancos protegem as edificações contra o desgaste e melhoram a eficiência energética, além de reduzir o custo de manutenção e prolongar a vida útil das construções”, afirma Daniel Arruda, gerente de marketing estratégico do negócio de construção da Dow.

Ele conta que, este ano, um workshop na Califórnia, reuniu os principais fabricantes para discutir os avanços na capacidade de refletir a luz solar, danos de exposição e envelhecimento natural.

O encontro foi patrocinado pelo Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, pelo Oak Ridge e pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos.

“Não é qualquer branco que traz os benefícios apresentados pelos cientistas americanos”, afirma Fábio Munhoz, gerente de marketing da Hydronorth.

“Se eu pintar o telhado com cal, não vai fazer diferença porque não terá durabilidade e não será autolimpante.” Ele explica que os requisitos técnicos exigem um grau de reflectância de luz da ordem de 78% no começo do uso e de pelo menos 50% após três anos. O produto lançado pela empresa forma uma membrana elástica protetora, capaz de se contrair e expandir com as mudanças de temperatura.

Aquecimento global

O americano Hashem Akbari, criador da campanha Cool Cities Program, que dissemina pelo mundo a ideia das cidades “resfriadas”, ou seja, cobertas com materiais de cores claras, calcula que as cidades ocupam cerca de 2,4% das terras do planeta e por volta da metade desse território é constituída por ruas e telhados.

Se toda essa superfície fosse coberta de branco, aumentaria a quantidade de luz solar refletida pelo planeta de volta para a atmosfera em 0,03%, o que equivaleria a cancelar o aquecimento global produzido por 44 bilhões de toneladas de carbono, considerando o balanço entre a redução da temperatura e a não emissão de gases do efeito estufa.

Akbari esteve esta semana em São Paulo para participar de um debate sobre os telhados brancos na Câmara Municipal, com apoio do Green Building Council Brasil (GBC), que lançou a campanha One Degree Less, para evitar o aquecimento prejudicial nas cidades. A campanha, no ano passado, contou com a participação de várias personalidades, que pintaram a mão de branco para uma foto.

O cientista, porém, não teve muita sorte. Descontentes com o projeto de lei do vereador Antônio Goulart, que obriga os paulistanos a pintar os telhados e até determina prazo de 180 dias para isso, representantes dos construtores e pesquisadores se opuseram à ideia.

“Uma única solução, e ainda por cima obrigatória, não é o caminho mais sensato para enfrentar as ilhas de calor”, afirmou a arquiteta Diana Csillag, do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS).

“Defendemos um mix, incentivando o estudo do impacto da cor branca e outras soluções.” O vereador Goulart prometeu rever o seu projeto antes de reapresentá-lo na Câmara.

Brasil Economia